Lula nega que Brics seja antiocidente e defende participação de Irã, China e Rússia: “Não podem estar fora”
Presidente brasileiro falou com repórteres após encerramento da 15ª Cúpula dos Brics, em Joanesburgo, que aprovou entrada de seis países no bloco: Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã
Em um balanço final ao término da 15ª Cúpula dos Brics, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu, nesta quinta-feira (24), que o bloco não deve ser visto como antiocidente e defendeu a participação de Irã, Rússia e China.
Lula falou rapidamente com repórteres, em Joanesburgo, antes de embarcar em viagem oficial a Luanda, na Angola.
Nesta quinta, com o encerramento da cúpula, os líderes dos Brics convidaram oficialmente Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã para serem membros plenos do grupo.
Questionado se, com a participação de Irã, Rússia e China, os Brics poderiam ser vistos como um “G7 antiocidente”, Lula disse que “não podemos negar a importância geopolítica desses países”.
Ele destacou o Irã como um país “extremamente importante”, com 120 anos de relações com o Brasil. “Fico muito feliz quando vejo o Irã conversando com o mundo árabe, tentando colocar acordo com a Arábia Saudita. Isso é uma mudança do comportamento da humanidade. A gente vai vivendo, vai apanhando, vai aprendendo”, declarou Lula.
O presidente também destacou que “ninguém pode negar a importância mundial da China”, a quem se referiu como quem “soube tirar proveito da ganância do capitalismo”.
“[Irã, Rússia e China] são três países que não podem estar fora de qualquer agrupamento político que você queira fazer. Seja para discutir Economia, Ciência e Tecnologia, Cultura. Essa gente tem que estar participando e outros países irão participar porque têm muitos países pedindo”, acrescentou.
Em sua fala inicial, Lula tratou a entrada de novos países como “um avanço extraordinário” que representa a mudança na economia e geopolítica mundial. Ele também pontuou que os países escolhidos “já estavam na fila há muito tempo pedindo” e não foram escolhidos ao acaso.
“Outros países vão pedir e nós vamos fazer da mesma forma seletiva, criteriosa, escolhendo as pessoas de acordo com a importância geopolítica de cada país. O que está em jogo aqui não é a pessoa do governo, é o país, é a importância do país. Não quero saber que pensamento ideológico o governante tem. Quero saber se os países estão dentro dos critérios que estabelecemos para as pessoas fazer parte dos Brics”, disse.
Logo antes de deixar o púlpito, o presidente foi questionado se o bloco mudará de nome com a entrada de novos países.
“Na minha opinião, o nome vai permanecer Brics. É bonito, ‘Brics’, parece até que eu estou falando inglês. Então vai ficar o Brics. Já está registrada a criança. A criança virou adulta, ela não quer mudar de nome”, concluiu Lula.
Moeda de negócio única para os Brics vai ser estudada por um ano e não queremos pressa, diz Lula
O presidente também destacou o avanço obtido na Cúpula com a discussão sobre a adoção de uma moeda comum para as trocas comerciais entre os países do bloco.
“Outro avanço importante é discutir a elaboração de uma moeda de negócio sem precisar mudar a moeda do país. O Brasil continua com o real, a China com o yuan, a Argentina com o peso. Ninguém quer mudar a unidade monetária do país. O que queremos é criar uma moeda que permita que a gente faça negócio sem precisar comprar dólar”, disse Lula.
“Resolvemos criar uma moeda porque isso facilita a vida das pessoas. Nós não queremos pressa porque não é uma coisa simples de fazer. O que decidimos, com muita maturidade, foi garantir que a área econômica dos países dos Brics estudem durante todo esse ano para que, na próxima reunião dos Brics, que será na Rússia, a gente apresenta uma solução para saber se vamos estar em consenso ou não”, completou.
“Não há mais explicação”, diz Lula sobre reforma no Conselho de Segurança da ONU
O último destaque dado pelo presidente para a 15ª Cúpula dos Brics foi a concordância dos países em torno da ideia de se reformar o Conselho de Segurança da ONU com a entrada de mais países.
Ele retomou argumentos já ditos em outras ocasiões, sobre como “a geopolítica de hoje não tem nada a ver com a geopolítica de 1945”.
“O mundo mudou, os países mudaram, ganharam importância. Então é importante que a ONU tenha uma representatividade que possa deliberar coisas que as pessoas obedeçam”, continuou.
Se referindo à discussão das mudanças climáticas, Lula disse que “não adianta fazer COP” se os países não cumprem os acordos.
“Como a geografia política mudou, acho que as pessoas vão ficar favoráveis à gente entrar. Não há mais explicação para não fortalecer a entrada de países africanos, latino-americanos, asiáticos. Qual é a explicação de uma Índia estar de fora do Conselho de Segurança da ONU?”, questionou Lula.
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