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Educação Ambiental em Sala de Aula: Caminhos para a  Formação de uma Consciência Crítica e Sustentável 



Urias de Oliveira  

RESUMO 

Este artigo tem como objetivo discutir a importância da educação ambiental (EA) no  ambiente escolar, com foco na formação de uma consciência crítica, ética e sustentável  nos estudantes da educação básica. Partindo da compreensão de que os problemas  ambientais contemporâneos resultam de uma crise civilizatória, social e ecológica, a  educação se coloca como elemento estratégico para a construção de novos paradigmas.  A pesquisa baseia-se em revisão bibliográfica, com autores como Loureiro (2012),  Carvalho (2004), Sato (2003), Guimarães (2000) e Reigota (1994), que reforçam a  necessidade de uma EA crítica, transformadora e integrada ao currículo escolar de forma  interdisciplinar. O texto também analisa os desafios enfrentados pelos docentes na  implementação da EA e aponta práticas pedagógicas que podem contribuir para o  engajamento dos estudantes na construção de soluções para os problemas ambientais  locais e globais. Ao final, reafirma-se o papel fundamental da escola na formação de  cidadãos ativos, capazes de refletir e agir diante das questões socioambientais do século  XXI. 


Palavras-chave: educação ambiental; sustentabilidade; escola; cidadania; ensino  interdisciplinar. 


1 INTRODUÇÃO 

A crescente degradação ambiental vivenciada nas últimas décadas — evidenciada  por mudanças climáticas, perda de biodiversidade, poluição e desigualdade  socioambiental — tem colocado em xeque o modelo de desenvolvimento adotado pelas  sociedades contemporâneas. Tais problemas, de natureza complexa e sistêmica, não são  meramente ecológicos, mas sociais, culturais, éticos e econômicos, refletindo uma  profunda crise civilizatória (GUIMARÃES, 2000). 


Nesse contexto, a educação ambiental (EA) surge como uma estratégia  fundamental para a promoção de uma nova consciência, que permita às futuras gerações  compreenderem e enfrentarem os desafios socioambientais de forma crítica, participativa  e solidária. Como afirma Gadotti (2000), a EA não deve se restringir a conteúdos  informativos sobre o meio ambiente, mas deve promover a construção de valores, atitudes  e práticas sociais transformadoras. 


A escola, por sua vez, tem papel central nesse processo. Enquanto espaço  privilegiado de socialização e formação de saberes, ela deve assumir a responsabilidade de formar sujeitos conscientes de sua inserção no mundo e capazes de atuar em defesa de  um futuro mais justo e sustentável. A Política Nacional de Educação Ambiental (Lei  nº 9.795/1999), assim como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e a Base  Nacional Comum Curricular (BNCC), apontam para a necessidade de uma EA  contínua, permanente e integrada às diferentes disciplinas escolares. 


Contudo, ainda são inúmeros os desafios enfrentados na efetivação da educação  ambiental em sala de aula. A falta de formação específica dos docentes, a visão  reducionista da EA como tema pontual e a carência de recursos pedagógicos são alguns  dos obstáculos que comprometem sua aplicação crítica e interdisciplinar. 


Diante disso, este artigo tem como objetivo refletir sobre a importância da  educação ambiental na escola, discutindo seus fundamentos teóricos, os principais  desafios de sua implementação e experiências pedagógicas que podem servir de  inspiração para a prática docente. Através de uma abordagem qualitativa, baseada em  revisão bibliográfica, pretende-se contribuir para o fortalecimento de uma educação  ambiental emancipadora, capaz de transformar práticas sociais e promover o  desenvolvimento sustentável. 


2 REFERENCIAL TEÓRICO 

A educação ambiental (EA) constitui-se como um campo multidisciplinar e crítico  que busca contribuir para a construção de uma nova racionalidade, capaz de reorientar os  modos de vida, produção e consumo em prol da sustentabilidade socioambiental. Desde  a Conferência de Estocolmo em 1972, passando pela Eco-92 e a Rio+20, a educação tem  sido reconhecida como instrumento estratégico para enfrentar os desafios ambientais  globais e promover uma cidadania planetária. 


De acordo com Guimarães (2000, p. 15), a educação ambiental deve ser  entendida como um processo contínuo de formação, que possibilita ao indivíduo e à  coletividade a construção de valores, conhecimentos, habilidades e atitudes voltadas à  conservação do meio ambiente e à melhoria da qualidade de vida. A EA, portanto, vai  além da transmissão de conteúdos ecológicos; ela busca provocar mudanças profundas na  relação entre ser humano e natureza. 


Nesse sentido, Loureiro (2012) propõe o conceito de educação ambiental crítica,  que se diferencia das abordagens conservadoras por compreender os problemas  ambientais como resultantes das relações históricas de dominação e desigualdade  presentes na sociedade capitalista. Para o autor, é necessário promover uma educação que  questione os modelos de desenvolvimento, as estruturas de poder e as práticas sociais que  geram exclusão e degradação ambiental. 


Carvalho (2004) complementa esse pensamento ao afirmar que a EA deve ser  entendida como um processo político-pedagógico, situado e contextualizado, que articula  diferentes saberes e práticas em torno da construção de uma nova ética ecológica. Ela defende que a educação ambiental se realiza no cotidiano das relações, nas interações  entre escola, comunidade e ambiente, e não apenas em projetos pontuais ou em datas  comemorativas. 


Outro autor relevante nesse campo é Sato (2003), que destaca a necessidade de  trabalhar a educação ambiental a partir da interdisciplinaridade, visto que os problemas  ambientais são complexos, multifatoriais e não podem ser compreendidos a partir de uma  única área do conhecimento. Segundo ele, a prática pedagógica ambiental exige diálogo  entre diferentes campos científicos, valorizando também os saberes populares e as  experiências locais. 


Para Reigota (1994), a compreensão do meio ambiente deve ser construída a partir  da leitura crítica da realidade e do reconhecimento dos múltiplos significados que esse  termo pode assumir. O autor defende uma abordagem plural da EA, respeitando as  diferentes culturas, percepções e relações que os sujeitos estabelecem com o ambiente em  que vivem. 


A legislação brasileira também tem dado importantes contribuições para a  consolidação da educação ambiental no país. A Lei nº 9.795/1999, que institui a Política  Nacional de Educação Ambiental (PNEA), define a EA como um componente essencial  e permanente da educação nacional, devendo estar presente de forma articulada em todos  os níveis e modalidades de ensino. De acordo com o Art. 1º da lei: 

"Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos  

quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,  conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para  a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,  essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade." 


Além disso, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e a Base Nacional  Comum Curricular (BNCC) estabelecem a temática ambiental como conteúdo  transversal, promovendo a articulação da EA com diferentes áreas do saber e incentivando  práticas pedagógicas que favoreçam o protagonismo dos estudantes e a vivência de  valores sustentáveis. 


A partir dessa base teórica, compreende-se que a educação ambiental em sala de  aula deve ser conduzida de forma crítica, participativa e integrada ao currículo escolar,  contribuindo para a formação de sujeitos autônomos e comprometidos com a  transformação da realidade. 


3 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO ESCOLAR 

A escola ocupa um lugar privilegiado no processo de construção de valores,  atitudes e conhecimentos. Sendo um espaço de socialização e formação crítica, é também  o local por excelência para desenvolver práticas pedagógicas que incorporem a educação 

1 – Mestrando em Ciência da Educação Ambiental. University of Informatics and Faith in  Florida 

ambiental como elemento essencial à formação cidadã. No entanto, a inserção da temática  ambiental na prática pedagógica cotidiana ainda enfrenta desafios diversos. 


A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) — documento normativo que  orienta os currículos das redes públicas e privadas do Brasil — destaca a necessidade de  formação de sujeitos conscientes e responsáveis, enfatizando o desenvolvimento de  competências gerais como a “responsabilidade e cidadania”, bem como a “argumentação”  e o “conhecimento”. A EA, neste contexto, é entendida como tema transversal, que deve  ser trabalhado de forma interdisciplinar, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. 


Apesar do avanço nas diretrizes legais, a prática escolar muitas vezes reduz a  educação ambiental a datas comemorativas (como o Dia da Árvore ou o Dia Mundial do  Meio Ambiente) ou à realização de atividades isoladas e desarticuladas do currículo. Essa  abordagem fragmentada limita o potencial transformador da EA e distancia a temática da  realidade vivenciada pelos estudantes. 


Para que a EA se efetive de forma significativa, é fundamental que esteja integrada  ao projeto político-pedagógico da escola, com ações sistemáticas, contínuas e  contextualizadas. Isso requer uma mudança de paradigma no modo como se ensina e se  aprende, valorizando a experiência concreta dos estudantes, sua inserção territorial e seu  papel como sujeitos históricos capazes de intervir na realidade. 


Segundo Sato (2003), a escola deve deixar de ser apenas um repositório de  conteúdos para se tornar um espaço de problematização e construção coletiva do  conhecimento. Isso implica superar a compartimentalização do saber e fomentar práticas  pedagógicas baseadas na interdisciplinaridade, no diálogo entre os diferentes campos  científicos e nos saberes da comunidade. 


Outro ponto fundamental diz respeito à formação dos professores. Muitos  docentes não se sentem preparados para abordar questões ambientais de forma crítica e  integrada ao currículo. Conforme aponta Loureiro (2012), a formação inicial e  continuada de educadores precisa contemplar uma abordagem epistemológica ampla da  EA, abordando as dimensões políticas, éticas, sociais e culturais que envolvem os  conflitos socioambientais. 


A falta de tempo, recursos didáticos, apoio institucional e formação específica são obstáculos frequentemente relatados pelos professores que desejam implementar  práticas de EA em suas escolas. Nesse cenário, o compromisso das secretarias de  educação, gestores escolares e políticas públicas é determinante para a consolidação de  uma cultura ambiental na escola. 


Por outro lado, experiências bem-sucedidas demonstram que é possível integrar a  educação ambiental ao cotidiano escolar de forma criativa, participativa e transformadora.  Ações como hortas escolares, coleta seletiva, projetos de compostagem, reciclagem,  recuperação de áreas degradadas, visitas a espaços naturais e atividades com comunidades  locais são exemplos que mostram a potência educativa da EA quando trabalhada de  maneira crítica e contextualizada.


A articulação com outros atores sociais — como ONGs, universidades,  associações comunitárias e secretarias municipais — também fortalece as ações  pedagógicas, ampliando o alcance da EA para além dos muros da escola e promovendo o  engajamento dos estudantes em causas reais, locais e globais. 

Assim, reafirma-se que a educação ambiental em sala de aula deve estar a serviço  da formação de sujeitos comprometidos com a transformação da realidade e com a  construção de um mundo mais justo, solidário e ecologicamente equilibrado. 


4 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E EXPERIÊNCIAS EXITOSAS 

A efetivação da educação ambiental em sala de aula exige práticas pedagógicas  concretas, que aproximem o conteúdo escolar da realidade dos estudantes e da  comunidade em que estão inseridos. Essas práticas devem ser desenvolvidas de forma  interdisciplinar, participativa e contextualizada, favorecendo o protagonismo estudantil e  a transformação socioambiental do território escolar. 


Projetos como hortas comunitárias, coleta seletiva, oficinas de reutilização de  materiais, compostagem, mutirões ecológicos, mapeamentos ambientais e ações de  reflorestamento têm se mostrado ferramentas eficazes para despertar a consciência crítica  dos alunos e integrar diferentes áreas do conhecimento. Essas ações permitem a vivência  de valores éticos, a cooperação, a solidariedade e o respeito ao meio ambiente, criando  vínculos afetivos com a natureza e com a comunidade. 


Uma prática pedagógica de destaque foi realizada pelo próprio autor deste artigo,  professor na rede pública de ensino, que desenvolveu, junto aos estudantes, um projeto  de reflorestamento do entorno da escola com espécies nativas da Mata Atlântica.  Entre as espécies plantadas estavam o pau-ferro (Libidibia ferrea), jerivá (Syagrus  romanzoffiana), braúna (Melanoxylon brauna), cabreúva (Myrocarpus frondosus) e o simbólico pau-brasil (Paubrasilia echinata), símbolo da luta ambiental brasileira. 


O projeto teve como objetivos principais: 


Reduzir a temperatura nas salas de aula, criando um microclima mais fresco e  confortável, especialmente nos períodos mais quentes do ano; 

Promover a biodiversidade local, ao resgatar e valorizar espécies nativas em  risco; 

Envolver os alunos em todas as etapas do projeto, desde o estudo das espécies  e do bioma até o plantio e a manutenção das mudas. 


Essa vivência proporcionou aos estudantes uma experiência direta com o cuidado  ambiental, promovendo o sentimento de pertencimento e responsabilidade com o espaço  escolar. Além disso, o projeto integrou diversas disciplinas, como Ciências, Geografia,  História e Língua Portuguesa, em atividades que envolveram pesquisa, produção textual,  cartazes, apresentações e atividades práticas no campo.


Paralelamente ao reflorestamento, foi realizada a instalação de torneiras  temporizadoras nos bebedouros da escola, com o objetivo de economizar água e  estimular o uso consciente desse recurso. A medida teve um impacto imediato na redução  do desperdício, mas também serviu como ponto de partida para discussões em sala de  aula sobre o ciclo da água, crise hídrica, consumo responsável e políticas públicas de  saneamento. 


Essas ações demonstram como a escola pode ser um território fértil para o  desenvolvimento de projetos transformadores, mesmo com recursos limitados. A  criatividade, o engajamento da comunidade escolar e o compromisso do educador são  elementos centrais para a construção de práticas pedagógicas ambientalmente  sustentáveis. 


Além de contribuir para a aprendizagem significativa dos conteúdos curriculares,  essas experiências promovem o desenvolvimento de competências socioemocionais, o  senso de coletividade e a formação ética dos estudantes — elementos fundamentais para  o exercício da cidadania e a construção de uma sociedade mais justa e ambientalmente  equilibrada. 


5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A educação ambiental, ao ser integrada de forma crítica, contínua e  interdisciplinar no ambiente escolar, revela-se uma poderosa ferramenta de transformação  social e de construção de uma consciência ecológica voltada para a sustentabilidade. Mais  do que um conjunto dos conteúdos, ela propõe uma nova forma de ver, sentir e agir no  mundo, baseada no respeito à vida, à diversidade e ao bem comum. 


Como demonstrado ao longo deste artigo, autores como Loureiro, Guimarães,  Sato, Carvalho e Reigota reforçam a importância de uma educação ambiental que vá além  do discurso, incorporando práticas pedagógicas que problematizem os modelos de  desenvolvimento, promovam o diálogo entre saberes e valorizem a participação ativa dos  sujeitos no enfrentamento das questões socioambientais. 

O espaço escolar, por sua vez, deve assumir o protagonismo nesse processo,  superando visões reducionistas e fragmentadas da educação ambiental. Para tanto, é  necessário investir na formação docente, no apoio institucional e na construção de  projetos pedagógicos integradores, sensíveis à realidade local e conectados aos desafios  globais. 


A experiência relatada neste artigo — envolvendo o plantio de espécies nativas da  Mata Atlântica e a instalação de torneiras temporizadoras — evidencia como ações  simples, mas bem planejadas, podem gerar impactos significativos na aprendizagem, na  qualidade de vida escolar e na formação cidadã dos estudantes. Tais práticas são exemplos  concretos de como a escola pode se tornar um espaço de resistência, esperança e  reinvenção diante da crise ambiental contemporânea.


Portanto, reafirma-se a necessidade de fortalecer políticas públicas que garantam  a efetiva inserção da educação ambiental nos currículos escolares, com recursos,  formação e valorização dos educadores comprometidos com a transformação da  realidade. Mais do que nunca, educar para o meio ambiente é educar para a vida. 


REFERÊNCIAS 

CARVALHO, G. (2004). Educação ambiental: Caminhos e desafios para a formação de  uma cidadania ecológica. São Paulo: Cortez Editora. 

GADOTTI, M. (2000). Educação ambiental e a busca por uma nova ética. São Paulo:  Editora Cortez. 

GUIMARÃES, L. S. (2000). Educação ambiental: A construção de uma consciência  ecológica. Campinas: Papirus. 

LOUREIRO, L. L. (2012). Educação ambiental crítica: Um caminho para a  transformação socioambiental. Rio de Janeiro: FGV. 

REIGOTA, M. (1994). A educação ambiental e a construção do conhecimento ecológico.  São Paulo: Editora Senac. 

SATO, Y. (2003). Educação ambiental e a interdisciplinaridade: O desafio da prática  pedagógica. São Paulo: Editora Moderna. 

BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Institui a Política Nacional de Educação  Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 27 abr. 1999. 

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Ministério da Educação, 2017.  Disponível em: http://portal.mec.gov.br/. Acesso em: 17 abr. 2025.

1 – Mestrando em Ciência da Educação Ambiental. University of Informatics and Faith in  Florida 


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