Relatório mostra que brasileiros consomem, em média, três remédios por dia; entre os idosos, o número varia de quatro a oito medicamentos diários
Os adultos brasileiros consomem, em média, três remédios por dia. Entre os idosos, esse número cresce: a partir dos 60 anos, a média é de mais de quatro medicamentos tomados por dia, enquanto entre 70 e 80 anos, é de sete remédios diários. Os dados são de levantamento feito pela Far.me, empresa de farmácia on-line por assinatura, e acende alerta sobre os riscos do consumo de vários medicamentos de uma vez para a saúde.
O relatório da Far.me analisou oito mil tratamentos no último ano, com base nos dados da própria plataforma, e mostrou que o consumo de mais de um remédio por dia é comum entre os brasileiros.
“Pela assinatura na plataforma, conseguimos acompanhar os medicamentos que os pacientes utilizam e, com isso, foi possível perceber as diferenças de gênero e de faixa etária e resolvemos fazer o estudo para analisar profundamente essas questões, além de quais medicamentos são mais utilizados por cada faixa etária”, explica Rafael Mandelbaum, CEO da Far.me, à CNN.
Quais os riscos de tomar vários medicamentos para a saúde?
De acordo com Thiago Piccirillo, clínico geral na Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, um dos principais riscos da polifarmácia [hábito de tomar vários medicamentos de uma vez] é a possibilidade de interações entre os os remédios, ou seja, quando eles reagem entre si, podendo causar novos efeitos colaterais ou reduzir a sua eficácia.
“Além disso, pode levar à dificuldade em seguir corretamente os horários e dosagens, já que tomar muitos medicamentos pode causar confusão, levando a doses erradas ou esquecimentos e baixa adesão ao tratamento”, afirma Piccirillo.
Outro importante risco é a sobrecarga do fígado e dos rins, principalmente entre os mais idosos, já que são o grupo mais suscetível à polifarmácia.
Como reduzir o risco associado ao consumo de vários remédios?
Apesar de oferecer riscos à saúde, o consumo de vários medicamentos se torna necessário na velhice para melhorar a qualidade de vida, além de evitar o agravamento de doenças crônicas comuns da terceira idade. Por isso, Piccirillo ressalta que é fundamental que o paciente e o médico revisem regularmente os medicamentos usados no tratamento.
“Usar uma lista atualizada de todos os remédios e seguir rigorosamente as instruções do médico é importante. Além disso, é essencial comunicar qualquer efeito colateral ao médico”, orienta.
É possível consultar na própria bula de um medicamento com quais outras substâncias ele pode sofrer interação. Lembre-se, sempre, de checar o nome do componente ativo de cada remédio (o famoso “nome genérico”) para identificar essas possíveis interações.
“Para quem é nosso assinante, desenvolvemos uma IA [inteligência artificial] que analisa o risco do tratamento dos clientes, como automedicação, horário e dose errados e interação medicamentosa. E, a partir dos riscos identificados, notificamos o paciente e sugerimos ajustes nesse tratamento”, explica Mandelbaum. Esse tipo de serviço é importante para evitar os riscos de interação medicamentosa entre quem consome vários medicamentos por dia.
Nessa mesma seara, cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e de outros centros de pesquisa dos Estados Unidos desenvolveram uma IA que informa quando há risco em misturar duas medicações diferentes. Os achados da ferramenta foram publicados neste ano na revista científica Nature Biomedical Engineering, mas a IA ainda não está disponível para uso fora do ambiente de pesquisa.
Padrão de consumo de medicamentos varia conforme faixa etária
Além da tendência de consumir vários remédios por dia, o levantamento também mostrou que o padrão de consumo de medicamentos varia conforme faixa etária e gênero. De acordo com o relatório, até os 17 anos, as mulheres utilizam 47% a mais de fármacos do que os homens.
Esse cenário muda com o passar da idade: entre 30 e 39 anos, homens utilizam 33% mais remédios que mulheres; entre 40 e 49 anos, a taxa diminui, mas ainda é superior às mulheres: 18% a mais. Já entre 50 e 59 anos, a diferença de percentual entre os gêneros volta a subir, com os homens consumindo 25% de medicamentos do que as mulheres.
“É possível que as mulheres tenham a tendência de consumir mais medicamentos que os homens devido a fatores como problemas menstruais, dores abdominais ou distúrbios hormonais”, explica Piccirillo. “À medida que envelhecem, os homens podem começar a consumir mais medicamentos devido a condições crônicas como hipertensão, colesterol alto e doenças cardíacas, que são mais comuns em homens mais velhos”, completa.
O relatório também mostrou que, até a faixa dos 30 a 40 anos, a maioria dos medicamentos utilizados tanto por homens quanto por mulheres é para o tratamento de distúrbios psiquiátricos, principalmente depressão. A partir dos 50 anos até os 80, o cenário muda, com o maior uso de fármacos para tratar doenças crônicas, como colesterol alto, hipertensão e diabetes tipo 2.
“Esses dados sugerem que, na vida jovem adulta, questões de saúde mental, como depressão, são predominantes, refletindo talvez o estresse e os desafios emocionais comuns nessa fase da vida atualmente”, comenta Piccirillo. “Já a partir dos 50 anos, surgem mais problemas crônicos como colesterol alto, hipertensão e diabetes, que são frequentemente associados a fatores de risco acumulados ao longo dos anos, como dieta inadequada, falta de exercício e envelhecimento”, acrescenta.
Na visão do clínico geral, esses dados destacam a importância de cuidados preventivos e de um estilo de vida saudável desde cedo para reduzir o risco de doenças crônicas na velhice.
Link de referência da matéria: https://www.cnnbrasil.com.br
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