Segundo estudo, liderado por um pesquisador brasileiro, comportamentos benéficos para a saúde do coração, como dieta, sono e atividade física, são positivos para função e estrutura cerebral
Um novo estudo revelou que existe uma relação positiva entre a saúde cardiovascular e o desenvolvimento cerebral em adolescentes. De acordo com a pesquisa, comportamentos benéficos para a saúde do coração — como alimentação saudável, boa qualidade do sono e a prática de atividade física — são vantajosos para a função cognitiva e para a estrutura cerebral durante o início da adolescência.
O estudo, liderado pelo pesquisador brasileiro Augusto César F. De Moraes, do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, foi publicada na revista Mental Health and Physical Activity. O trabalho analisou dados de 978 participantes do Estudo de Desenvolvimento Cognitivo e Cerebral do Adolescente (ABCD), com foco no impacto de comportamentos de saúde cardiovascular no desenvolvimento neurocognitivo.
O estudo analisou dados de 978 participantes do estudo Adolescent Brain and Cognitive Development (ABCD), feito nos Estados Unidos desde 2016 com foco no impacto de comportamentos de saúde cardiovascular, como dieta, atividade física, uso de nicotina e saúde do sono no desenvolvimento neurocognitivo. Anualmente, crianças e adolescentes respondem questionários e, a cada dois anos, passam por exames que avaliam desde peso e altura até o desenvolvimento do cérebro, por meio de ressonância magnética.
No recorte atual, o objetivo era verificar se a saúde cardiovascular nos adolescentes estava associada à saúde do cérebro.
“Em adultos, nós verificamos que o principal fator de risco para acidente vascular cerebral e para o desenvolvimento de demência é a pressão arterial elevada por longo tempo. Como nós sabemos, a hipertensão arterial pode se desenvolver desde a fase intrauterina, talvez, nessas crianças que tenham uma saúde cardiovascular melhor, elas tenham um melhor desenvolvimento do cérebro. Por isso, realizamos o estudo”, explica Moraes à CNN.
Para o trabalho, os pesquisadores analisaram o desenvolvimento cerebral por meio de ressonância magnética e as compararam com testes que avaliaram a saúde cardiovascular, como pressão arterial, hemoglobina glicada, glicemia, colesterol, índice de massa corporal (IMC), e fatores de estilo de vida, como sedentarismo, qualidade do sono, alimentação e uso de nicotina.
Relação entre saúde cardiovascular e saúde cerebral
Os achados indicam que adolescentes com melhor perfil de saúde cardiovascular apresentam maior função cognitiva executiva e maior volume cortical cerebral total. “Nós descobrimos que quanto mais atividade física o adolescente faz, maior é o resultado no teste de função cognitiva-executiva. Também verificamos que a combinação de quatro comportamentos — não fumar, fazer atividade física, se alimentar bem e dormir bem — também está relacionada ao maior resultado no teste”, afirma Moraes.
Além disso, o estudo também observou que, quanto melhores os fatores de saúde cardiovascular — glicemia, colesterol, pressão arterial e peso corporal — melhores foram os resultados nos testes de função cognitiva-executiva, principalmente quando combinado com fatores comportamentais positivos.
“Isso é multifatorial, mas sabemos que para um desenvolvimento adequado das funções executivas e, obviamente, cerebrais, você deve dormir adequadamente. O sono está diretamente relacionado ao desenvolvimento de funções executivas, porque durante ele que as memórias e as aprendizagens se cristalizam. Isso também tem uma associação direta na maior plasticidade do cérebro”, esclarece o pesquisador.
Saúde cardiovascular e risco de demência
Segundo Moraes, algumas microlesões cerebrais que podem estar relacionadas à demência começam a ser desenvolvidas no início da vida, incluindo a infância e a adolescência. Esse é mais um dos motivos para investigar mais a fundo a relação entre saúde cardiovascular e cognitiva entre adolescentes.
“Isso está associado ao desenvolvimento do cérebro e a fatores de volume cortical total do cérebro”, diz o pesquisador. “No estudo, nós verificamos que o sono está diretamente relacionado com o volume total do cérebro. Então, quanto melhor o sono — e, para adolescentes, o ideal é dormir entre 8 e 10 horas por dia –, maior é o volume total do cérebro”, afirma.
Com essa descoberta, o estudo sugere que a prevenção da demência pode ser iniciada logo na infância e na adolescência. “Se conseguirmos prevenir a pressão arterial elevada ou promover uma melhor saúde cardiovascular, possivelmente teremos um melhor desenvolvimento neurocognitivo, que é o que estamos apresentar no estudo. Isso, futuramente, é um fator preventivo do desenvolvimento de Alzheimer e de outras demências”, afirma.
Desafios para promover a melhor saúde cardiovascular entre adolescentes
Na visão dos autores do estudo, as implicações desses achados são de longo alcance e enfatizam a necessidade de iniciativas de saúde pública que promovam comportamentos de estilo de vida saudável entre os jovens. No entanto, diante de uma infância e adolescência mais conectada a telas e tecnologias diversas, isso pode representar um desafio.
“É inevitável que as pessoas usem tecnologias, hoje em dia. Então, o que temos que tentar fazer é promover um consumo limitado”, comenta Moraes. “Em relação ao sono, especialistas recomendam fazer a higiene do sono, então, 30 minutos antes de dormir, diminuir as luzes, ter hora certa para dormir e para acordar. Em relação aos alimentos ultraprocessados, uma dica é ensinar as crianças e adolescentes a preparar alimentos saudáveis. E, obviamente, promover a atividade física”, sugere o pesquisador.
Link de referência da matéria: https://www.cnnbrasil.com.br
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