Atualmente, as angiospermas representam aproximadamente 78% de todas as plantas no nosso planeta
Quando Carlos Drummond de Andrade afirmou que uma flor “furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio”, em “A flor e a náusea”, o poeta descrevia um acontecimento simbólico, mas é possível que essa tal resiliência tenha algum respaldo científico, segundo um novo artigo publicado na revista científica “Biology Letters”, na última quarta-feira (13).
O estudo indica que as taxas de extinção das angiospermas — grupo de plantas que possuem como principais características a presença de flores e frutos — permaneceram constantes ao longo do tempo geológico, com suas linhagens sobrevivendo, inclusive, ao evento que exterminou os dinossauros não-aviários do planeta Terra.
Segundo os pesquisadores, não há evidências de que a extinção em massa do Cretáceo-Paleógeno (K-Pg), que exterminou mais de 75% das espécies animais, há cerca de 66 milhões de anos, tenha provocado o mesmo efeito nas plantas com flores.
Embora os registros fósseis indiquem que muitas espécies de angiospermas foram extintas, as linhagens as quais elas pertenciam, tais como famílias e ordens, sobreviveram o suficiente para dominar o bioma terrestre.
Hoje, as angiospermas representam aproximadamente 78% de todas as plantas no nosso planeta, com um número de cerca de 290 mil espécies.
Para chegar aos dados, os cientistas analisaram árvores evolutivas construídas a partir de mutações nas sequências de DNA de até 73 mil espécies vivas de plantas com flores.
“Depois que a maioria das espécies da Terra foram extintas em K-Pg, as angiospermas aproveitaram a vantagem, semelhante à forma como os mamíferos assumiram o controle depois dos dinossauros, e agora praticamente toda a vida na Terra depende ecologicamente de plantas com flores”, descreveu Jamie Thompson, um dos autores do estudo.
Segundo a análise, a resiliência dessas plantas deve estar associada a inovações adquiridas pelo grupo das angiospermas, como a capacidade de polinização por animais e pelo vento, além do mecanismo de fotossíntese conhecido como “CAM” — uma adaptação típica de espécies que vivem em ambiente árido.
Santiago Ramírez-Barahona, outro cientista envolvido na pesquisa, explicou: “As plantas com flores têm uma notável capacidade de adaptação: utilizam uma variedade de mecanismos de dispersão de sementes e polinização, algumas duplicaram todo o seu genoma e outras desenvolveram novas formas de fotossíntese.”
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