A tecnologia, desenvolvida por pesquisadores da Universidade da Califórnia - São Francisco, pode ajudar no diagnóstico precoce da demência frontotemporal
Pesquisadores da UCSF (Universidade da Califórnia São Francisco), nos Estados Unidos, criaram um aplicativo para smartphone que pode realizar testes cognitivos e identificar sinais precoces de demência frontotemporal (DFT). Os resultados do estudo foram publicados na revista científica JAMA Network Open, no dia 1º de abril.
A demência frontotemporal é caracterizada por um grupo de distúrbios causados pelo acúmulo de proteína “tau” e outras proteínas que destroem os neurônios nos lobos frontais do cérebro (atrás da testa) ou nos lobos temporais (atrás das orelhas). De acordo com a Associação de Degeneração Frontotemporal, esse é o tipo de demência mais comum em pessoas com menos 60 anos.
Os principais sintomas da DFT incluem problemas de comunicação, mudanças no comportamento e na personalidade e dificuldade de movimentação. Entre 10% e 30% dos casos de DFT são hereditários. Além da genética, não há outros fatores de risco conhecidos.
Essa é uma demência difícil de ser diagnosticada precocemente, o que dificulta o tratamento eficaz. “A maioria dos pacientes com DFT são diagnosticados relativamente tarde na doença, porque são jovens, e seus sintomas são confundidos com transtornos psiquiátricos”, explica o autor sênior do estudo, Adam Boxer, professor de memória e envelhecimento no Departamento de Neurologia da UCSF, em comunicado.
Diante disso, os pesquisadores da UCSF implementaram testes cognitivos através de um app e descobriu que, dessa forma, é possível detectar sinais iniciais de DFT em pessoas predispostas geneticamente a desenvolver a doença, mas que ainda não apresentam sintomas.
De acordo com os pesquisadores, os testes realizados no app foram tão sensíveis quanto as avaliações neuropsicológicas realizadas clinicamente. Diante dos achados, os autores do estudo esperam que a tecnologia possa contribuir com formas de diagnosticar precocemente a DFT e, além disso, com indicações de voluntários para ensaios clínicos de medicamentos para retardar a progressão da doença.
“Eventualmente, o aplicativo poderá ser usado para monitorar os efeitos do tratamento, substituindo muitas ou a maioria das visitas presenciais aos locais de ensaios clínicos”, diz Adam Staffaroni, primeiro autor do estudo, neuropsicólogo clínico e professor associado do Departamento de Neurologia da UCSF e do Weill Instituto de Neurociências, também em comunicado.
Como o estudo foi feito?
Os pesquisadores acompanharam 360 pessoas com idade média de 54 anos, matriculados no estudo ALLFTD (sobre a DFT) e em estudos realizados pela UCSF.
Cerca de 60% dos participantes não tinham DFT ou eram portadores do gene que ainda não tinham desenvolvido sintomas, 20% apresentaram sinais precoces da doença e 21% apresentavam sintomas.
Os pesquisadores colaboraram com a empresa de softwares Datacubed Health, que desenvolveu o app, para incluir testes de funções executivas, como planejamento e priorização, filtragem de distrações e controle de impulsos. Isso porque na demência frontotemporal, a parte do cérebro responsável por essas funções diminui conforme a doença avança.
O aplicativo coletou dados como gravações de voz e movimentos corporais, o que permitiu que os pesquisadores desenvolvessem novos testes que, eventualmente, poderiam ajudar no diagnóstico precoce e no monitoramento dos sintomas.
“Desenvolvemos a capacidade de gravar falas enquanto os participantes realizavam vários testes diferentes”, explica Staffaroni. “Também criamos testes de caminhada, equilíbrio e movimentos lentos, além de diversos aspectos da linguagem.”
Até o momento, ainda não há planos para disponibilizar o aplicativo para o público. No entanto, os pesquisadores acreditam que a tecnologia possa ser benéfica para as pesquisas sobre a DFT.
Link de referência da matéria: https://www.cnnbrasil.com.br
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