Embora o mercado de vestuário “plus size” brasileiro tenha crescido 75% nos últimos dez anos, segundo a Associação Brasil Plus Size, quem veste tamanhos maiores ainda tem dificuldade em encontrar roupas nas lojas
“Gordofobia na moda é ser impedido do direito básico de comprar roupas e ocupar espaços”, opina o influenciador digital Caio Revela, um modelo plus size que compartilha o ativismo antigordofóbico nas redes sociais.
Caio veste entre 58 e 60, tamanhos fora da grade mais comum de P a GG, e afirma que tem dificuldade de encontrar roupas que lhe sirvam – mesmo as básicas.
“Eu estou há pelo menos cinco meses tentando achar uma calça jeans para mim”, desabafa. “O preconceito contra pessoas gordas na moda acontece a partir do momento em que, para comprar uma roupa, você tem que mudar completamente o seu corpo primeiro.”
De acordo com a pesquisa mais recente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), de julho de 2022, 85,3% das pessoas obesas já sofreram gordofobia no Brasil.
O coordenador do curso de Moda da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), Fernando Hage, explica que plus size é quando o tamanho da roupa vai de 48 a 70.
Durante muito tempo, de acordo com o professor, a indústria da moda não via esse nicho como rentável. Mas, a partir de um movimento de resistência do próprio público, se notou que um grupo de pessoas não estava sendo atendido nas lojas.
Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 24% da população brasileira é obesa, enquanto aproximadamente 61% têm excesso de peso.
No mundo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 2,3 bilhões de adultos estejam acima do peso, sendo 700 milhões de indivíduos com obesidade.
“O movimento antigordofóbico foi muito importante para fazer a indústria da moda entender que existia um público ávido por produtos de moda que não se sentia abraçado”, avalia o estudioso.
Mais do que um movimento de mercado de consumo, Fernando Hage acredita que o que está em jogo é a propagação de um estereótipo: “Nós somos sempre bombardeados por imagens que reforçam o mesmo padrão de corpo, magro e esguio, que não condiz com a realidade”.
A atriz e modelo plus size Mayara Russi sempre gostou de se vestir bem, tanto que é formada em Moda.
Mas ela, que se identifica como uma gorda maior, afirma que esse universo sempre lhe foi muito distante – mesmo tendo o reconhecimento de uma carreira pública.
“As roupas que eu achava ou eram na seção masculina ou com aquelas estampas que não tinham nada a ver com o meu estilo”, diz. “Moda é arte, e arte é expressão, e se eu não posso expressar quem eu sou através da moda, eu perco a minha identidade”.
Mayara, que hoje tem 34 anos, é modelo desde adolescente, quando a moda ainda não incluía os corpos gordos como inclui hoje.
“Quando eu percebi que o mercado estava se interessando em crescer, eu fiquei muito feliz, porque, querendo ou não, a minha contribuição no mercado foi muito grande”, revela a modelo.
A Associação Brasil Plus Size, que integra o mercado de tamanhos maiores, estima que a indústria desse segmento teve faturamento de 9,6 bilhões de reais em 2021 e deve faturar cerca de 15 bilhões em até 5 anos no Brasil.
A presidente da ABPS, Marcela Liz, explica que, mais do que a demanda, o que está por trás desse crescimento é o desejo de inclusão e de atendimento de um direito básico.
“Hoje, apesar de ainda ter muito trabalho pela frente, nós estamos conseguindo atender a população gorda em melhor qualidade do que atendíamos há 10 anos”, afirma. “Isso é inclusão.”
Para o professor da Faap Fernando Hage, é importante que a indústria não veja a moda plus size apenas como tendência, e sim como uma fatia de mercado em transformação.
O que não pode ser ignorado, de acordo com ele, é a evolução pela qual a moda vem passando nos últimos anos por meio da inclusão de corpos reais.
Link de referência da matéria: https://www.cnnbrasil.com.br
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