Descoberta é de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), que apontam para relação entre a exposição infantil ao chumbo e o efeito negativo no desenvolvimento da linguagem dos bebês
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) descobriu que o leite humano de mulheres que vivem em São Paulo está contaminado por metais como arsênio, chumbo e mercúrio. Além disso, os cientistas descobriram que a exposição infantil ao chumbo afetou significativamente o desenvolvimento da linguagem dos bebês.
Pesquisas anteriores já mostraram que bebês de países de baixo e médio rendimento tinham maior risco de serem expostos à poluição ambiental. Segundo a Comissão Lancet sobre Poluição e Saúde, publicada em 2017, existe uma desigualdade significativa nas mortes relacionadas à poluição, com maior fardo em países de baixa e média renda — mais de 90% das mortes por poluição ocorreram nessas regiões, segundo a Comissão.
A poluição inclui a contaminação do ar por partículas finas, contaminação do oceano por mercúrio, azoto, plástico e resíduos de petróleo, e o envenenamento da terra por chumbo, mercúrio, pesticidas, produtos químicos industriais e resíduos eletrônicos, entre outros.
Diante disso, pesquisadores da USP, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade de Kyushu, em Fukuoka, no Japão, decidiram examinar os níveis de metais no leite humano de mulheres vivendo em São Paulo, especialmente arsênio, chumbo, mercúrio e cádmio. Além disso, eles buscaram determinar os efeitos desses componentes no neurodesenvolvimento dos bebês.
Para isso, eles examinaram 185 pares de mães e bebês da cidade de São Paulo que forneceram amostras de leite humano aos três meses de idade. O neurodesenvolvimento dos bebês foi avaliado aos 3, 5–9 e 10–16 meses usando a escala Bayley III de desenvolvimento infantil e de crianças pequenas. Essa escala consiste em uma série de tarefas e observações comportamentais, incluindo o desenvolvimento cognitivo, de linguagem, motor e socioemocional.
Segundo o estudo, um terço das mulheres analisadas tinha níveis detectáveis de metais no leite. A maior taxa de detecção de metais nas participantes avaliadas foi para arsênio (38,6%), seguido por mercúrio (23,9%) e chumbo (22,8%). Já a concentração média foi de 2,76 (4,09) μg/L, 1,96 (6,68), 2,09 (5,36), respectivamente. Não foi detectado cádmio nos leites humanos examinados.
Além disso, ao analisar as associações entre exposições a esses metais e efeitos no neurodesenvolvimento dos bebês, os pesquisadores descobriram que apenas o chumbo mostrou um efeito significativo no desenvolvimento da linguagem dos lactentes.
Segundo os pesquisadores, os bebês são particularmente vulneráveis à absorção de metais, pois a barreira intestinal deles ainda é imatura, o que aumenta a chance de permeabilidades desses elementos. Além disso, a imaturidade de outros órgãos e sistemas também contribui para maior toxicidade durante a infância. Por exemplo, estudos já demonstraram que o cérebro tem maior probabilidade de ser afetado pelo chumbo.
Uma meta-análise publicada em 2023 sugere que a exposição ao chumbo pode estar relacionada aos transtornos do espectro autista (TEA), pois níveis mais altos do metal foram encontrados em várias amostras biológicas de crianças autistas em comparação aos participantes do grupo controle.
Além disso, uma revisão sistemática publicada em 2021 descobriu que bebês e crianças expostas ao chumbo apresentam reduções nos níveis de acetilcolina, glutamato e GABA, e nos níveis de expressão dos receptores NMDA, o que resulta no declínio de suas habilidades de leitura e linguagem, aumento da resposta ao estresse e memória ruim.
“Nossos resultados merecem apreciação porque eles relatam uma estimativa de alto tamanho de efeito, mesmo considerando várias covariáveis, incluindo educação materna e renda familiar, sexo do bebê e status socioeconômico”, escrevem os pesquisadores no estudo.
“Nosso estudo mostra que a exposição ao chumbo via leite humano está associada a uma trajetória de linguagem mais baixa durante os primeiros 2 anos de vida. Isso enfatiza a necessidade de revisar os níveis atualmente aceitos de metais em amostras humanas, pois mesmo baixas concentrações podem prejudicar populações vulneráveis”, acrescentam.
Segundo os autores, mais estudos são necessários para confirmar a ligação entre a exposição ao chumbo e os déficits de neurodesenvolvimento no início da vida e para determinar as consequências de longo prazo em crianças e adultos.
Apesar dos descobrimentos do estudo, autoridades de saúde reforçam a importância de realizar doações do leite materno. A campanha do Ministério da Saúde começou em maio deste ano.
De acordo com a pasta, um litro de leite materno doado pode alimentar até 10 recém-nascidos por dia. A doação visa salvar vidas de bebês prematuros ou com baixo peso que estão internados e não podem ser amamentados pelas próprias mães
A doação de leite materno pode ser feita por toda mulher que amamenta, desde que seja saudável e não tome medicamentos que interfiram na amamentação. Qualquer quantidade de leite humano pode ser doado.
O Brasil possui 225 bancos de leite humano em todos os estados e 217 postos de coleta. É possível encontrar o banco mais próximo para realizar a doação pelo telefone 136 ou pela Localização dos BLHs no site oficial do Ministério da Saúde.
Link de referência da matéria: https://www.cnnbrasil.com.br
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