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Foto do escritorBrigite Hanôver

Centro de Saúde construído para atender indígenas doentes na Terra Yanomami é desmontado e retirado

Unidade funcionava desde abril deste ano e foi desmontada na última terça-feira (31). O Centro era preparado para realizar atendimentos de urgência, consultas, exames e o tratamento de malária e desnutrição em meio à grave crise de saúde no território.

O Centro de Referência em Saúde Indígena construído para atender indígenas doentes dentro da Terra Yanomami foi desmontado e a estrutura retirada da região, informou nessa segunda-feira (6) a Urihi Associação Yanomami. A unidade funcionava em Sucurucu e foi montada em meio à grave crise humanitária enfrentada pelos indígenas.


A unidade funcionava desde abril deste ano e foi desmontada na última terça-feira (31) - funcionou por quase sete meses. O Centro era preparado para fazer atendimentos de urgência, consultas, exames e o tratamento de malária e desnutrição - as duas doenças que mais assolam os indígenas que vivem no território.


Com o desmonte e retirada da estrutura, a Urihi cobrou explicações ao Ministério da Saúde, Secretaria de Saúde Indígena e Presidência da República. Em ofício, a organização alertou para os "momentos de vulnerabilidade e falta de segurança" que os indígenas no território ainda vivenciam.

Procurados, os órgãos federais citados não se pronunciaram até a última atualização da matéria.

O presidente da Urihi, Júnior Hekurari Yanomami, que também é chefe do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY), teme que cenários como os anos de 2020 a 2022, quando indígenas morreram sem atendimento médico, se repitam. No ano passado, foram registradas 99 mortes de crianças Yanomami por desnutrição, pneumonia e diarreia.


Conforme o último boletim do Centro de Operação de Emergências em Saúde Pública (COE - Yanomami) foram registradas 215 mortes de indígenas até o dia 4 de outubro. Destas, 155 ocorreram dentro do próprio território e 112 vítimas eram crianças de 0 a 4 anos de idade.

"Agora não tem mais nada lá. A emergência continua, antes de ontem uma criança de quatro anos faleceu [...] Não tem mais o atendimento de emergência dentro do centro de Surucucu, agora vai ser concentrado tudo para Boa Vista", disse Hekurari ao g1.

No território há o polo base de Surucu, uma unidade básica de saúde onde os indígenas buscam atendimento médico. Por outro lado, no local não há estrutura para atendimentos de emergência, por isso os pacientes nessa situação são removidos para Boa Vista.


A unidade era uma estratégia do governo federal para reduzir número de remoções de indígenas doentes da Terra Yanomami para Boa Vista, onde estão localizados hospitais para adultos, crianças e o Hospital de Campanha.


A unidade atendia indígenas da região de Surucucu e também os pacientes dos polos Parafuri, Haxiu, Homoxi, Xitei e Waputha. O centro foi uma promessa do presidente Lula (PT) quando visitou Roraima em janeiro deste ano para acompanhar a situação do povo Yanomami. No ofício, a Urihi pede que seja construída uma estrutura fixa na região para garantir assistências aos indígenas.



"Cabe então, uma articulação para atuação conjunta dos Órgãos Representativos, de maneira que possam garantir a proteção imediata, estabelecendo a construção de uma estrutura fixa na região do Surucucu de forma imediata e urgente, garantindo que a população tenha segurança quanto a assistência básica de saúde", cita o documento da Urihi.


A unidade era dividida em ala ambulatorial, sala de acolhimento e triagem, salas de estabilização, consultórios, lactário, farmácia, laboratório e microscopia. A estrutura também contava com refeitório, centro de convivência e redários.

O espaço era preparado para atender cerca de 100 pacientes por dia, além de 20 admissões diárias.


Terra Yanomami

Maior território indígena do Brasil, a Terra Indígena Yanomami passa por uma grave crise humanitária e sanitária em que dezenas de adultos e crianças sofrem com desnutrição grave e malária. Desde o dia 20 de janeiro, a região está em emergência de saúde pública.


Alvo há décadas de garimpeiros ilegais, o maior território indígena do Brasil enfrentou nos últimos o avanço desenfreado da atividade ilegal no território. Em 2022, a devastação chegou a 54% - cenário que tem mudado com as ações deflagradas desde janeiro deste ano.


A invasão do garimpo predatório, além de impactar no aumento de doenças no território, causa violência, conflitos armados e devasta o meio ambiente - com o aumento do desmatamento, poluição de rios devido ao uso do mercúrio, e prejuízos para a caça e a pesca, impactando nos recursos naturais essenciais à sobrevivência dos indígenas na floresta.


Desde janeiro deste ano, as Forças Armadas, órgãos federais e agências integram a força-tarefa do governo federal para proteção dos indígenas na região. A operação ocorre por meio de ações de patrulhamento, revista de pessoas, veículos terrestres, embarcações e aeronaves e de prisões em flagrante delito.




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