Mais conhecida por sua finalidade estética, a toxina botulínica também pode ser usada para aliviar dores crônicas e até mesmo o vaginismo
O botox, nome mais conhecido para a toxina botulínica, tem se mostrado um importante aliado da saúde e do bem-estar, além do poder de reduzir o número de rugas da pele.
Segundo resultados de pesquisas e neurologistas, a substância é amplamente recomendada para aliviar os sintomas de doenças que causam dor e prejuízos à qualidade de vida. A enxaqueca crônica é uma dessas doenças.
Caracterizada como um distúrbio neurológico debilitante, a enxaqueca crônica tem como um de seus principais sintomas a dor pulsátil, de intensidade moderada a forte, em um dos lados da cabeça. Segundo a Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCe), mais de 1 bilhão de pessoas no mundo todo convivem com a doença — sendo a maioria mulheres. No Brasil, são pelo menos 30 milhões.
“São pacientes que apresentam pelo menos 15 dias de dor de cabeça por mês, sendo oito delas com características típicas da enxaqueca. Esses sintomas devem ser observados por, pelo menos, três meses”, explica Francine Mendonça, neurologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Além da dor pulsante, outros sintomas são associados à enxaqueca crônica, como náuseas, vômitos, fotofobia e perda de apetite. Dificuldade de concentração e perda do equilíbrio também podem ser verificados em casos mais graves.
Não à toa, a enxaqueca é considerada a segunda maior causa de incapacidade no mundo todo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Como o botox atua contra os sintomas da enxaqueca
Nesse sentido, o tratamento da enxaqueca tem como objetivo não só aliviar a dor, mas também melhorar a qualidade de vida do paciente.
Analgésicos, mudanças comportamentais (como a eliminação de gatilhos olfativos, sonoros e luminosos para a dor), entre outros métodos, costumam ser usados no tratamento da enxaqueca. Soma-se a eles as injeções de botox.
O uso da toxina botulínica para o tratamento da enxaqueca está regularizado no Brasil desde 2011, quando foi aprovado pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Luiz Severo, neurocirurgião especialista no tratamento avançado da dor crônica, explica que a toxina botulínica, quando aplicada em locais específicos do corpo, impede a contração muscular.
“Esse efeito relaxante muscular é benéfico para pacientes com enxaqueca crônica, porque ajuda a diminuir a tensão nos músculos do crânio e pescoço, que podem contribuir para o desencadeamento das crises”, explica o médico.
Além de sua ação neuromuscular, a toxina botulínica também interfere na liberação de neurotransmissores e neuropeptídeos relacionados à dor. “Ao reduzir a transmissão de sinais de dor ao sistema nervoso central, a toxina ajuda a prevenir o ciclo de dor crônica, diminuindo tanto a frequência quanto a intensidade das crises”, complementa o especialista.
Aplicações e frequência
Segundo os especialistas, as aplicações do botox para o tratamento da enxaqueca devem seguir o chamado Protocolo PREEMPT, um compilado de regras e instruções aos profissionais de saúde.
“O protocolo consiste na aplicação de 31 a 39 pontos, com cinco unidades [da toxina] em cada um deles. Para a enxaqueca, a toxina botulínica é aplicada, por exemplo, na região frontal da cabeça, nas têmporas, pescoço e no trapézio. São pontos específicos pré-determinados em protocolo”, indica Francine.
As aplicações podem ser feitas, no mínimo, a cada três meses — sendo a periodicidade ajustada conforme a resposta do paciente e a gravidade das crises.
Importante lembrar que o uso de botox para enxaqueca não se trata de cura da doença, mas de um método que ajuda no alívio da dor. A exclusão ou não de outros remédios e substâncias durante o tratamento varia caso a caso.
“Muitas vezes, a toxina botulínica é usada como parte de uma abordagem multidisciplinar, que pode incluir medicamentos preventivos e abortivos, terapias comportamentais, e modificações no estilo de vida”, pontua Severo.
Contraindicações
A toxina botulínica é, geralmente, contraindicada para gestantes e lactantes pela falta de estudos que comprovem sua segurança nessas populações, explica o neurocirurgião.
Em crianças, o uso é restrito e indicado em adolescentes acima de 11 anos; menores de 2 anos não devem realizar as aplicações da substância.
Para idosos, o uso é liberado tanto para o tratamento de enxaqueca ou outras condições.
Outras doenças que podem ser tratadas com botox
Além da enxaqueca crônica, o botox pode ser usado para o tratamento de outras doenças e condições para o alívio da dor e para melhorar o trabalho de contração e relaxamento muscular. São elas:
Hiperidrose (suor excessivo);
Bruxismo (ranger de dentes);
Espasmos musculares e distonias;
Paralisia facial;
Sequelas de AVC;
Estrabismo;
Vaginismo.
Sua aplicação pode ser realizada por neurologistas, dermatologistas, urologistas, cirurgiões-dentistas, oftalmologistas, ginecologistas, entre outros profissionais de saúde com habilitação para o manejo da substância.
Link de referência da matéria: https://www.cnnbrasil.com.br
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